Vinhais 14.08.05
A Longa Viagem
Depois do acordar prematuro que descrevi no dia anterior, a partida para Vinhais deu-se cedo. Mas como o surrealismo da rotunda-de-campismo não podia ficar por ali, na altura de pagar à recepcionista, a rapariga nem sabia fazer contas em cêntimos. Por três vezes que me vi obrigada a corrigir o troco.
Saimos cedo e em boa hora o fizemos, já que a viagem até Vinhais revelou-se longa qb e nem deu para almoçarmos no Porto, como tinhamos planeado na véspera. E como se a distância não bastasse, o calor era intenso e o radiador resolveu aquecer obrigando-nos a fazer uma pausa no meio de nenhures (ainda por cima sem kit-kat). Azar? O maior ainda estava para vir, já que a caprichosa bateria deixou de dar sinal quando decidimos regressar à estrada. Pois é! Valeu o susto, porque afinal a solução até se revelou fácil. Bastou seguir as instruções do outro lado da linha: «Mexe lá nos cabos da bateria, Sandra». Obrigada, pai.
Sustos à parte, seguimos caminho até chegar a Vinhais pelas 18.00 horas (é verdade, um dia inteiro na estrada). Novamente uma chegada com passagem obrigatória pelo Parque de Campismo. Desta vez, mesmo Parque. Com P grande e com boas condições. Pena a mulher das limpezas que no dia seguinte teimou em proibir-me de tomar banho: «Vir espezinhar isto ao meio-dia? Isso não são horas para gente decente tomar banho, menina!» Sem comentários.
Continuando. Depois da tenda armada, a chegada ao recinto foi das mais violentas que já vivi. Não sei se não queriam lá forasteiros, mas era escusado “atropelarem” o pessoal com cilindros de madeira! Ao que parece, naquela zona é costume jogarem à malha. Até aqui tudo bem. Viva os jogos tradicionais! Mas é desconfortável, no mínimo, ser obrigada a encolher a cabeça cada vez que passava entre homens com ar de lenhadores que se divertiam a tentar atingir uma pedra pequenina com uma pedra g-i-g-a-n-t-e-s-c-a! Não devia ser ao contrário? Para evitar cabeças partidas? A situação era tão exótica que até o nosso técnico de som favorito, no seu low-profile, desatou a tirar fotografias.
Assim se passava o tempo. De um lado, com lenhadores; do outro, com um fossas-men a regar o pelado para não levantar poeira. Mais um cromo a contribuir para o dia surrealista, tal a quantidade de água que despejou daquele tractor. Não deve ter reparado que a piscina municipal era do lado contrário! O ar boquiaberto dos Xutos, sentados no palco a olhar para aquilo, ficou na minha memória.
Depois de dois dedos de conversa com o aniversariante João Cabeleira - onde aproveitámos para lhe oferecer o “Livro Andarilho” que podem ver na foto acima -, o cansaço da noite anterior começou a manifestar-se na forma de uma enorme dor de cabeça. Obrigado à Rita pelos comprimidos. O resto do pessoal que me desculpe por ter estado pouco activa, mas a dor era tanta, que até me fazia confusão a quantidade de energia que estava ao meu lado, personificada na... Buggie. Ah pois! Que ela disse que não ía, mas antes do jantar apareceu de surpresa, hehehe. Parece que só resolveram ir a Vinhais quando já eram 3 da tarde. Mais dois gandas malucos!
O Mini Concerto
Quanto ao concerto, depois de tantos kms, só tivemos direito a um mini-concerto. Seis músicas. Com muita pena minha, sobretudo porque o cansaço passou assim que entraram em palco. Mas esse sentimento de pena todos tivemos, incluindo os músicos, aposto. Cá para mim foi o tipo da junta de freguesia que agoirou quando quis armar-se em engraçadinho: «Esperemos que não venha uma nortada para estragar o concerto». Pois foi exactamente o que aconteceu!
A ventania começou assim que os Xutos entraram em palco e depois tornou-se cada vez mais forte. Tão forte, que cantámos os “Barcos Gregos” com os lenços a tapar bocas e narizes; e com os óculos escuros a proteger a vista (para quem não esteve lá, o recinto era um campo de futebol com terra muito fininha, estilo cinza). Até o Tim se viu forçado a cantar de olhos fechados, uma vez que a poeira saltou as grades e não tardou a invadir o palco. Para quem acha que os Xutos foram pouco profissionais, basta pensar no esforço que os 5 Magníficos fizeram ao longo daqueles 6 temas.
Quando o Zé Pedro informou o público do “intervalo forçado” por problemas técnicos graves, já todos adivinhavam que a segurança das colunas suspensas estava em causa. Abanavam por todo o lado. Depois, numa cena à filme-catástrofe, os elementos da organização pediram para nos afastarmos, revelando que “o palco podia cair a qualquer momento”. Dizer que arredaram as grades dez metros, acho que não é exagero. Entretanto, o público continuava como as colunas: suspenso!
Resolvemos ir para a parte traseira do palco onde nos sentiamos mais protegidos. Foi de lá que reparei na estrutura vertical do palco, ameaçadoramente presa por um cabo ao mais pesado dos camiões. Quem não tinha percebido, percebeu. Ai se ele cai, vai-se (mesmo) partir...
Foi-me explicado por um dos profissionais da régie que os palcos são como as pontes. Devem ter um comportamento basculante. Ou seja, quando são montados é suposto oscilarem para ambos os lados. Caso contrário, quebram. O que aconteceu foi que o forte vento que se fazia sentir, estava a provocar o efeito-vela, como nos barcos veleiros, forçando a estrutura apenas para um dos lados. E além do perigo real para público e músicos, existia perigo também para roadies e restante equipa técnica. Explicaram-me que, ao tirarem as toneladas de material que estavam a servir de lastro no palco, o oleado podia fazer caixa de ar e levantar a estrutura.
Lamento que o tipo da organização, o tal agoirento da junta de freguesia, tenha passado uma mensagem de cobardia referente aos músicos, dizendo que «não arriscam». Não se fala para milhares de pessoas dessa maneira. Os Xutos não se acobardaram com o vento, senhor da junta. Se a empresa que montou o palco tivesse trabalhado com profissionalismo, a estrutura tinha resistido ao vento. E mesmo de olhos fechados e a garganta cheia de poeira, o Tim continuaria a cantar!
Como balanço, foram só seis músicas, mas foram boas. Estava a ser um grande concerto. Para o comemorar, fomos beber mais uma imperial à barraquinha da Super Bock. Afinal, para bem da nossa sede, as barraquinhas de cerveja não vergaram ao vento!
9 Comments:
At 8:53 da tarde, agosto 22, 2005, Anónimo said…
Grande aventura! E com vento assim ainda se admiram dos incendios. Beijinhos.
Xutos Forever
At 9:12 da manhã, agosto 23, 2005, Anónimo said…
Parabens Sandra. A aventura foi fantastica, o texto tá excelente, o livro é lindo. Como diz a fada sininho, não me canso de vir aqui. Beijos.
At 12:30 da tarde, agosto 23, 2005, Anónimo said…
gostei muito do teu relato desse dia de concerto, vou passar a ser uma presença assídua neste blog!!
beijinhos
depois se der passa no meu flog
http://www.fotolog.net/gritosmudos
At 3:18 da tarde, agosto 23, 2005, Leoa said…
Vejam a parte boa, assim o concerto não acabou com a Casinha :P
jinhos
At 12:10 da manhã, agosto 24, 2005, bilheteira said…
Pois foi Leoa, e acima de tudo ninguem se magoou :)
At 11:55 da manhã, agosto 25, 2005, *Buggie* said…
Primeiro de tudo...pois foi...eu e o bayleys sempre aparecemos!!!!!
a surpresa foi muito boa, adorei fazê-la, e quando menos esperarem, há outra!!! :D
E quanto ao Mini Concerto e à energia....
só o facto de estar de novo com a Irmandade..... :))))) valeu a pena...
e digo mais....segundo palavras do Kalu em MOrtágua (e não MUrtágua como o Tim insistia), "vocês é que não perceberam, foi só para não acabar com a CASINHA!!!"
LOOOOL
Tenho saudades, muitas saudades...
At 12:13 da tarde, agosto 26, 2005, Anónimo said…
Foi simplesmente genial, apesar do concerto ter sido pequeno dadas as condições climatéricas adversas, foi brutal estar convosco de novo, e tal como disse a minha quinhas mais parva, quando menos esperarem, plim ... SURPRESA :)
A irmandade do pao com chouriço é única =) ( e agora vou para corroios que se faz tarde lol beijocas)
At 2:21 da tarde, agosto 31, 2005, Anónimo said…
Ainda bem que com este relato a história fica esclarecida...
beijinhos
***NANDA***
At 8:51 da tarde, janeiro 07, 2007, Geadas said…
Candy, descobri-te por acaso e falaste num assunto no qual estive presente muito de perto.
Escreves maravilhosamente.No entanto o relato é bastante poético.
Não estiveste por dentro dos acontecimentos.Foi uma pena aquilo ter acontecido.
Ninguém se acobardou.
Antes pelo contrário, acho que se tomaram a muito custo as decisôes adequadas.
Fala comigo através do mail: peacepipe@sapo.pt
O tempo passou e quero ver-te cá em VINHAIS sempre que quiseres.
Faço votos para que leias este comentário e me contactes.
Nota: Não sou o tal senhor da Junta "agoirento".
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