No quarto de Candy

"E ela disse, se tu queres ser livre abre os teus olhos..." - No quarto de Candy - Xutos & Pontapés, 1997

quarta-feira, agosto 31

Parabéns Gui




Na madrugada em que o nosso Carlos Guilherme festeja os anos, deixo aqui uma mensagem do aniversariante para todos os andarilhos.

Parabéns Gui :)

quarta-feira, agosto 24

Vinhais: o Vídeo... Xoque




Para quem leu o post anterior, aqui ficam as imagens do que podia ter acontecido... ;)

Música: OP53 - Xutos & Pontapés (in Gritos Mudos)
Andarilho: Buster Keaton

segunda-feira, agosto 22

Vinhais 14.08.05


A Longa Viagem

Depois do acordar prematuro que descrevi no dia anterior, a partida para Vinhais deu-se cedo. Mas como o surrealismo da rotunda-de-campismo não podia ficar por ali, na altura de pagar à recepcionista, a rapariga nem sabia fazer contas em cêntimos. Por três vezes que me vi obrigada a corrigir o troco.

Saimos cedo e em boa hora o fizemos, já que a viagem até Vinhais revelou-se longa qb e nem deu para almoçarmos no Porto, como tinhamos planeado na véspera. E como se a distância não bastasse, o calor era intenso e o radiador resolveu aquecer obrigando-nos a fazer uma pausa no meio de nenhures (ainda por cima sem kit-kat). Azar? O maior ainda estava para vir, já que a caprichosa bateria deixou de dar sinal quando decidimos regressar à estrada. Pois é! Valeu o susto, porque afinal a solução até se revelou fácil. Bastou seguir as instruções do outro lado da linha: «Mexe lá nos cabos da bateria, Sandra». Obrigada, pai.

Sustos à parte, seguimos caminho até chegar a Vinhais pelas 18.00 horas (é verdade, um dia inteiro na estrada). Novamente uma chegada com passagem obrigatória pelo Parque de Campismo. Desta vez, mesmo Parque. Com P grande e com boas condições. Pena a mulher das limpezas que no dia seguinte teimou em proibir-me de tomar banho: «Vir espezinhar isto ao meio-dia? Isso não são horas para gente decente tomar banho, menina!» Sem comentários.

Continuando. Depois da tenda armada, a chegada ao recinto foi das mais violentas que já vivi. Não sei se não queriam lá forasteiros, mas era escusado “atropelarem” o pessoal com cilindros de madeira! Ao que parece, naquela zona é costume jogarem à malha. Até aqui tudo bem. Viva os jogos tradicionais! Mas é desconfortável, no mínimo, ser obrigada a encolher a cabeça cada vez que passava entre homens com ar de lenhadores que se divertiam a tentar atingir uma pedra pequenina com uma pedra g-i-g-a-n-t-e-s-c-a! Não devia ser ao contrário? Para evitar cabeças partidas? A situação era tão exótica que até o nosso técnico de som favorito, no seu low-profile, desatou a tirar fotografias.

Assim se passava o tempo. De um lado, com lenhadores; do outro, com um fossas-men a regar o pelado para não levantar poeira. Mais um cromo a contribuir para o dia surrealista, tal a quantidade de água que despejou daquele tractor. Não deve ter reparado que a piscina municipal era do lado contrário! O ar boquiaberto dos Xutos, sentados no palco a olhar para aquilo, ficou na minha memória.

Depois de dois dedos de conversa com o aniversariante João Cabeleira - onde aproveitámos para lhe oferecer o “Livro Andarilho” que podem ver na foto acima -, o cansaço da noite anterior começou a manifestar-se na forma de uma enorme dor de cabeça. Obrigado à Rita pelos comprimidos. O resto do pessoal que me desculpe por ter estado pouco activa, mas a dor era tanta, que até me fazia confusão a quantidade de energia que estava ao meu lado, personificada na... Buggie. Ah pois! Que ela disse que não ía, mas antes do jantar apareceu de surpresa, hehehe. Parece que só resolveram ir a Vinhais quando já eram 3 da tarde. Mais dois gandas malucos!

O Mini Concerto

Quanto ao concerto, depois de tantos kms, só tivemos direito a um mini-concerto. Seis músicas. Com muita pena minha, sobretudo porque o cansaço passou assim que entraram em palco. Mas esse sentimento de pena todos tivemos, incluindo os músicos, aposto. Cá para mim foi o tipo da junta de freguesia que agoirou quando quis armar-se em engraçadinho: «Esperemos que não venha uma nortada para estragar o concerto». Pois foi exactamente o que aconteceu!

A ventania começou assim que os Xutos entraram em palco e depois tornou-se cada vez mais forte. Tão forte, que cantámos os “Barcos Gregos” com os lenços a tapar bocas e narizes; e com os óculos escuros a proteger a vista (para quem não esteve lá, o recinto era um campo de futebol com terra muito fininha, estilo cinza). Até o Tim se viu forçado a cantar de olhos fechados, uma vez que a poeira saltou as grades e não tardou a invadir o palco. Para quem acha que os Xutos foram pouco profissionais, basta pensar no esforço que os 5 Magníficos fizeram ao longo daqueles 6 temas.

Quando o Zé Pedro informou o público do “intervalo forçado” por problemas técnicos graves, já todos adivinhavam que a segurança das colunas suspensas estava em causa. Abanavam por todo o lado. Depois, numa cena à filme-catástrofe, os elementos da organização pediram para nos afastarmos, revelando que “o palco podia cair a qualquer momento”. Dizer que arredaram as grades dez metros, acho que não é exagero. Entretanto, o público continuava como as colunas: suspenso!

Resolvemos ir para a parte traseira do palco onde nos sentiamos mais protegidos. Foi de lá que reparei na estrutura vertical do palco, ameaçadoramente presa por um cabo ao mais pesado dos camiões. Quem não tinha percebido, percebeu. Ai se ele cai, vai-se (mesmo) partir...

Foi-me explicado por um dos profissionais da régie que os palcos são como as pontes. Devem ter um comportamento basculante. Ou seja, quando são montados é suposto oscilarem para ambos os lados. Caso contrário, quebram. O que aconteceu foi que o forte vento que se fazia sentir, estava a provocar o efeito-vela, como nos barcos veleiros, forçando a estrutura apenas para um dos lados. E além do perigo real para público e músicos, existia perigo também para roadies e restante equipa técnica. Explicaram-me que, ao tirarem as toneladas de material que estavam a servir de lastro no palco, o oleado podia fazer caixa de ar e levantar a estrutura.

Lamento que o tipo da organização, o tal agoirento da junta de freguesia, tenha passado uma mensagem de cobardia referente aos músicos, dizendo que «não arriscam». Não se fala para milhares de pessoas dessa maneira. Os Xutos não se acobardaram com o vento, senhor da junta. Se a empresa que montou o palco tivesse trabalhado com profissionalismo, a estrutura tinha resistido ao vento. E mesmo de olhos fechados e a garganta cheia de poeira, o Tim continuaria a cantar!

Como balanço, foram só seis músicas, mas foram boas. Estava a ser um grande concerto. Para o comemorar, fomos beber mais uma imperial à barraquinha da Super Bock. Afinal, para bem da nossa sede, as barraquinhas de cerveja não vergaram ao vento!

sábado, agosto 20

Ansião 13.08.05




Clique nas imagens para navegar na galeria

A viagem decorreu nas calmas, entre emigrantes, espanhóis e portunheses. Nada a declarar. Uma vez em Ansião, partimos em busca do parque-de-campismo mais próximo, que ficava numa terra estranhamente baptizada como Penela, mas a desilusão foi completa! Nunca vi parque tão pequeno em 20 anos de campismo! Estão a ver aquelas rotundas onde costumamos dar duas voltas? Pois o parque não era maior! Como já não havia tempo para procurar um local com melhores condições, montámos o Iglo em plena rotunda e aí fomos nós.

Ao chegar ao recinto do concerto foi bom rever caras de andarilhos que já tinham estado em Setúbal. Entre eles, adorei estar à conversa com a Rita, depois de tantos concertos em que a saudação entre nós se resumiu a um olhar... Em suma, uma tarde muito agradável entre andarilhos, roadies e músicos. Por falar em músicos, o João surpreende-me cada vez mais e fico muito feliz com a sua boa disposição. Check-sound arrumado com uma grande foto-reportagem que o Clube de Combate fez (e que a galeria acima ilustra) e lá fomos para a janta. Um hiato de tempo entre matrecos e shots que não custou nada, mesmo nada, a passar...

O concerto em si foi excelente, tirando as pitas estéricas atrás de nós, que não paravam de gritar e de tentar chegar às grades (para a próxima, se quiserem as grades cheguem mais cedo, dah). Fartei-me de pular e o banho de mangueira nunca me soube tão bem como neste concerto. Depois do shot por dentro, foi uma espécie de shot por fora. :)

Difícil, difícil, foi conseguirmos cantar os “Parabéns” ao João Cabeleira e reparar se ele dava conta. Desatámos a cantar quando a meia-noite chegou e ao fim de várias tentivas o Tim lá se sentiu abafado pela voz do Geração XP, interrompendo um mini-discurso para que pudéssemos celebrar a data. Sinceramente, continuei sem perceber se o João deu conta, mas - como isto de ser andarilho também é ser persistente - no final do concerto conseguimos cantar os “Parabéns” in loco e ao próprio. Até levou com um:
- «E pró João não vai nada, nada, nada?»
- «Tudooooo!»
O concerto acabou, mas a festa ainda estava a começar! Depois de um longo convívio com aqueles de que gostamos, resolvemos descansar no balneário (o suposto camarim lá da terra) onde “adquirimos” algumas recordações. Nem espelho ou cinzeiro se safaram.

A situação mais hilariante estava reservado para a saída do local, quando um feirante fã de Xutos (não, desta vez não fomos agredidos) quis comprar uma t-shirt à força toda. Ora, como já eram 4 da manhã, o Facal revelou-se com “olho pró negócio” e vendeu a t-shirt dele com ano e meio de uso por uns módicos... 20€ (mais oferta de quatro imperiais na compra de 4 pães)! Afinal, uma t-shirt com “experiência”, sempre deve ser mais cara, não é Facal?

Com tudo isto, já eram 7 da manhã quando tentámos ir dormir ao parque antes de rumarmos a Vinhais. Tentámos, disse bem, porque quando finalmente adormecemos, nem uma hora tinha passado e... começaram os foguetes. Bum, bum, bum! Que raio de ideia às 8.30 da manhã!

sábado, agosto 13

E aí vamos de novo na estrada...

Ansião. Vila de Vinhais. Este fim-de-semana estou na estrada. Volto terça-feira. Boa andarilhagem para quem for... e um beijo pra quem fica.

Andarilhos

E aí vamos de novo na estrada
Trocamos vistas sem ver nada
Cada um sege a sua devoção
Sua ilusão
Voam chapéus
Doem as pernas
Aqui e ali
Ampara a criança
Cuida de todos, cuida de ti
No teu caminho

E vim a ser mais um andarilho
Já ponho um pé á frente do outro
Já dei comigo fora do trilho
Por tão pouco

Agora a hora
É de alegria
Chegamos hoje
Ao fim do dia
Vamos lavar
Os corpos suados
Pelo caminho

E eis que chega
O amanhã
É levantar
Seguir viagem
Adeus adeus
Toma coragem
P'ro teu destino

E vim a ser mais um andarilho
Já ponho um pé á frente do outro
Já dei comigo fora do trilho
Por tão pouco...

Letra: Tim
Música: Xutos & Pontapés

sábado, agosto 6

As saudades que eu já tinha...




[clique na imagem para ouvir o tema com qualidade mp3]

A música que todos cantam e que alguns atribuem aos nossos Xutos & Pontapés, graças ao seu 7º single, é afinal uma adaptação do tema “Minha Casinha” cantada por Milú, em 1943, no filme “O Costa do Castelo” de Arthur Duarte. Localizada numa zona bairrista da velha colina do castelo de São Jorge, em Lisboa, a acção conduz-nos ao âmago da vida de uma família simples, que vive num lar pobre, mas confortável e acolhedor. A tal casinha.

Para quem ainda não teve a oportunidade de assistir a este pedaço de história do Cinema Português, aqui fica a trilha sonora original (para ouvir basta clicar na imagem acima) e a letra completa. Uma vez que estive afastada do Quarto de Candy uns dias, cantar as saudades que já tinha foi a melhor forma que encontrei para voltar.

Minha Casinha (versão original) - 1943

Que saudades eu já tinha
da minha alegre casinha
tão modesta como eu.
Como é bom, meu Deus, morar
assim num primeiro andar
a contar vindo do céu.

O meu quarto lembra um ninho
e o seu tecto é tão baixinho
que eu, ao ir para me deitar,
abro a porta em tom discreto,
digo sempre: «Senhor tecto,
por favor deixe-me entrar.»

Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.

De manhã salto da cama
e ao som dos pregões de Alfama
trato de me levantar,
porque o sol, meu namorado,
rompe as frestas no telhado
e a sorrir vem-me acordar.

Corro então toda ladina
na casa pequenina,
bem dizendo, eu sou cristão,
“deitar cedo e cedo erguer
dá saude e faz crescer”
diz o povo e tem razão.

Tudo podem ter os nobres
ou os ricos de algum dia,
mas quase sempre o lar dos pobres
tem mais alegria.

Autores: Silva Tavares e António Melo